deixa adivinhar na claridade indecisa da madrugada o esplendor do dia que não tarda. Depois, na idade da révora, ha no seu corpo a harmonia de um hymno triumphal, cantico de seiva rebentando em relampagos de vida. Depois, é o estio, estação fulgente, em que o feitiço offusca e cega, sol alto, calor fecundo, apotheose da luz e da força. Depois, é o outono, sazão bemdita, em que a mulher de quarenta a’nnos tem a formosura suave e melancolica dessas tardes longas, em que a luz anciosa, querendo fugir e querendo ficar, demora-se no ceu e na terra, e agarra-se ás arvores, ás nuvens, com pena de morrer... Depois, é o inverno... é a sacrosanta belleza da mulher bella na velhice, — uma belleza, que parece immaterializar-se, espiritualizar-se sob a nevoa dos cabellos brancos...
Divino feitiço, abençoado sejas em todas as idades, pois que em todas as idades és o maior encanto e o maior consolo dos nossos olhos e das nossas almas! E perdoados, e bemditos sejam os poetas feiticistas, que por tua causa e por amor de ti, chegam até ás vezes a ultrapassar o limite do bom senso, caindo no dominio do disparate e da loucura!