Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/137

Wikisource, a biblioteca livre

que, para nos fazermos obedecer de um criado minhoto, não lhe falemos ale-mão.

Ora a criança, que recita maquinalmente, à flor dos lábios, o catecismo — não o percebeu. Declamava-se-lhe a vontade de Deus, sem lha explicar; de modo que às palavras que papagueia, ela não liga ideia que a prenda.

Desde que a criança sabe de cor o catecismo, supõe-se que ela tem religião. Mas se, chegando aos quinze anos, lhe perguntarem — «qual é o teu dever como esposa cristã? qual o teu dever de cristã como mãe? » ela ficará tão embaraçada, como se a interrogassem sobre cálculo diferencial. Da religião sabe a «reza», não sabe o dever: ou pelo menos o que ela supõe o dever é ouvir missa aos domingos, e não comer carne à sexta-feira. Princípios que lhe sirvam para se dirigir na vida, como filha, como esposa, como mãe, como mulher sociável — não sabe um. Sabe rezar o padre-nosso. Diante pois de qualquer circunstância da vida ela, religiosa, cristã e devota — como não se pode guiar pela religião que desconhece — guia-se pelo instinto ou pelo capricho. A religião de que tanto fala, e que tanto usa, aos domingos na Igreja, e à sexta-feira na cozinha, não lhe serve muito mais do que a um canário ou a uma rola. Porque no fim, o que a governa — é o instinto.