Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/138

Wikisource, a biblioteca livre

Contra as tentações da vida ela não terá no seu espírito conselho, força, resistência ou interesse superior. Uma ilusão, um momento de abandono podem-na perder: e toda a copiosa, aparatosa doutrina que lhe ensinaram e que não percebeu — não a pode salvar.

A pequerrucha Bebé, aos cinco anos, quando dispõe inteiramente da palavra e da frase — começa a mentir. Bebé mente. Uma senhora inglesa ou francesa ou alemã, se vê sua filha mentir, sente-se verdadeiramente ofendida. Uma só mentira contém duas culpas; deixamos de nos respeitar porque afirmamos o que é falso, e deixamos de respeitar os outros porque os induzimos voluntariamente em erro. Em Portugal a mentira da criança faz rir, é uma graça: prova o engenho, a faísca, a agudeza do pequenino cérebro. Bebé começa a mentir para ter triunfozinhos à mesa. No princípio nega o que faz — o que é o germe da covardia: depois conta o que os outros não fizeram

— o que é a semente da calúnia. De resto, entre nós, a mentira é um hábito público.

Mente o homem, a política, a ciência, o orçamento, a imprensa, os versos, os sermões, a arte, e o País é todo ele uma grande consciência falsa. Vem tudo da educação.