Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/141

Wikisource, a biblioteca livre

de paixões... O espírito da criança fita grandes olhos nestes mistérios pitorescos! E toda esta vida do mundo, de que lhe chega já nas conversas um sopro e uma vaga sensação, dá à sua pequenina alma uma palpitação ansiosa — alguma coisa do que produz o primeiro cheiro das madressilvas nas borboletas ainda afogadas na vida inerte do casulo.

Qual é depois o resultado? Que vemos aqui meninas, aos quinze anos, falando com grande autoridade sobre casamentos, dotes, adultérios, raptos, e afirmando que tal comédia é fresca ou que tal romance é imoral.

Uma das causas desta precocidade é a casa. Um grande agente na educação da criança é a casa. Em Lisboa as casas não têm quintais — e isto só explica muitos destinos. Num andar, com janela para a rua ou para o saguão, sem horizonte, sem

árvores, sem ar — a criança estiola. Estiolação lenta, que vai produzindo a sobreexcitação dos nervos, a propensão melancólica, a variabilidade de humor, a debilidade do carácter, etc.

Veja-se a criança educada numa quinta. Pela manhã já ela está solta, com um bibe, uns largos sapatos, um velho chapéu. Corre, visita os bois, luta