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factos de curiosidade. Toda a criança é curiosa; resta saber se os que a educam, pelos factos e pelas ideias que oferecem ao exercício da sua curiosidade, farão dela — uma descobridora ou uma mexeriqueira.

Em Portugal, as mulheres, excluídas da vida pública, da indústria, do comércio, da literatura, de quase tudo, pelos hábitos ou pelas leis, ficam apenas de posse de um pequeno mundo, seu elemento natural — a família e a toilette. Daqui provém que senhoras reunidas, conversando, giram — como borboletas em torno de um globo de candeeiro — em volta destes dois supremos assuntos: vestidos, e namoros. A criança — grande ouvido e grande curiosidade — absorve, como uma esponja chupa a água, tudo o que ouve dizer em redor, no conchego das saias juntas. Espírito nascente, ávido, trabalha principalmente sobre a ideia que contém mistério. Ver o que está dentro — e o ardor da criança, ou se trate de uma palavra que escutou, ou de um boneco que lhe deram. Ora quais são aqui os factos que oferecem à sua curiosidade as conversas da família, mãe, tias, amigas ou visitas? Que fulana casou, que aquela se separou do marido, que é inexplicável a riqueza de toilette de outra, que sicrano lhe faz a corte, mas que sicrano tem uma actriz. E sempre os namoros, os vestidos, os escândalos, os mexe-ricos, as histórias