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não é a religião, nem a Pátria, nem a Arte — é o dinheiro. O desinteresse é desprezado com uma ingenuidade bacoca. O mundo estende sofregamente a mão.

Primeira, profunda influência no espírito da mulher. — Daí o desejo de casar com dinheiro, casar rica; seja o marido velho, imbecil, rude ou trivial, contanto que traga o dinheiro, e o poder que ele dá.

Por outro lado a sociedade diz-lhe: goza! Ora na vida da mulher o que se entende por gozar? Ter um marido rico, grande luxo de casa, carruagem, camarote de ópera, toilettes magníficas. — É o que todo o pai em Portugal deseja para sua filha.

Casar rica para gozar: é em que se resolve a ambição de todo o destino feminino.

Dinheiro — e sensibilidade.

Courbet, o mais poderoso pintor crítico dos tempos modernos, fez um quadro: As duas meninas do segundo império. E uma paisagem magnífica: duas mulheres solteiras descansam ali, na frescura tépida das sombras. Uma, alta, loira, branca, está sentada; tem o perfil frio, seco, o olhar direito, e, com um dedo apoiado à face, calcula: — sente-se que pensa em dinheiro, juros, acções de companhia e jogo de fundos. A outra, deitada na relva, com os braços estendidos, como abraçando a terra, trigueira, de fisionomia nervosa e imaginativa, a testa curta,