Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/151

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nem dirige; a fé já não existe; a prática da justiça ainda não chegou: em que se apoiará a mulher? Isto poderá parecer vago. Um exemplo, pois, nítido e prático. Suponhamos uma mulher nova, educada em

Lisboa, com a educação contemporânea. Suponhamos que se lhe diz: «tu terás todas as elegâncias e triunfos da toilette; as tuas carruagens maravilharão a cidade; ninguém possuirá uma casa ornada com mais gosto e requinte; terás bailes, festas ruidosas e magníficas; amarás loucamente; serás doidamente amada por um homem, novo e belo; os vossos amores serão interessantes como uru drama; mas para isto serás forçada a enganar teu marido e descuidar teus filhos, e a tua existência será pecadora perante a religião, injusta perante a moral, indigna perante a família. — Aceitas? » Trata-se de saber se a moral contemporânea dá bastante força a uma alma, para que ela repila, sem mágoa, sem hesitação, com tédio — esta tentação cintilante.

Há muita gente ingénua que supõe que uma grande consideração para a mulher —

é o terror da catástrofe. Pueril ingenuidade. Nada tem um encanto tão profundamente atraente como a catástrofe. Ela satisfaz o desejo mais violento da alma — palpitar fortemente. O que se evita hoje, nesta excitação do mundo, é o terra a terra, o trivial, a chinela, a tranquilidade, o palito nos dentes, e a