Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/76

Wikisource, a biblioteca livre

todo o cerimonial, sabe-se que Sua Majestade estava disposto a mostrar — as suas chinelas de mouro! Mas as autoridades, em toda a parte, mal viam Sua Majestade começar a

Falemos da mala deste príncipe ilustre! Todos a conhecem. Ela deixa na Europa uma lenda soberba. Durante meses, viu-o o Velho Mundo absorto sulcar os mares, atravessar as capitais, medir os monumentos, costear os montes, visitar os reis, ensinar os sábios — com a sua mala na mão! É uma mala pequena, de couro escuro, com duas asas que se unem. É por ali que ele a segura. Ma outra mão trazia às vezes o guarda-sol, debaixo do braço entalava a espaços um embrulho de papel. Muitas vezes depôs o guarda-sol, outras alheou de si o embrulho; — a mala nunca! Paris, Londres, Berlim,

Viena, Florença, Roma, Madrid, o Cairo — conhecem-na. Ela ficou popular na Europa — como o pequeno chapéu de Napoleão o Grande, ou a grande cobardia de Napoleão o

Pequeno! Mesmo a celebridade da mala, encobre um pouco a glória do príncipe. Como disse o bom Beranger da batalha de Austerlitz — «muito tempo se falará dela sob os lustres dos palácios e sob o tecto das cabanas». Dele — menos! demonstrar, por meio de objectos familiares, que não era o príncipe — apressavam-se a recolher toda a gala, receosas que Sua Majestade levasse a sua demonstração até ao excesso de despir as calças.

Foi graças a estas precauções que Sua Majestade conseguiu atravessar a Europa — disfarçado na sua mala. Por isso ela vinha vazia. Sua Majestade não a usava como bagagem — punha-a como disfarce. Sua Majestade trazia a mala — como outros trazem um nariz postiço.

No entanto — disfarce ou bagagem — a mala é profundamente simpática. Dá a esta corte em viagem uma nota nobre de simplicidade e de sinceridade. Uma mala pequena não pode chegar para tudo: tapa por um lado o Imperador do Brasil — descobre por outro o homem de bem.