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Página:Ursula (1859).djvu/103

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por estranhos, e nunca chegaríeis a uma impertinência tão desagradável.

E com dignidade e serenada acrescentou:

— Senhor, eu devo voltar para minha casa.

O caçador tomou-lhe das mãos, e disse-lhe:

— Ao menos dizei que não me odiais!

— Sim, – tornou a moça, procurando desprender-se-lhe das mãos – sim, não vos odeio; mas deixai-me em paz.

— Em nome de vossa mãe, Úrsula, imploro-vos...

— O que, senhor?

— Uma só palavra, que me anime.

— Oh! Não, nunca – replicou ela com enérgica viveza. E depois interrogando-o com o olhar, tratou de empregar pela primeira vez a dissimulação, e ajuntou:

— Afirmastes ser amigo de minha mãe, não o acreditei; falais-me de um amor, que a meu pesar em vós despertei, e quereis que o corresponda, tenho-me até agora negado semelhante compromisso; mas tudo isso pode modificar-se, se eu puder conhecer-vos, se for permitido agora saber quem sois. O vosso nome?

— O meu nome! – exclamou tristemente o caçador deixando cair as mãos da moça. – Se o conhecêsseis!... Não, Úrsula, eu quero ser amado, ainda mesmo desconhecido.

E um assomo de dor, e uma onda de frenética raiva, baralharam-se na alma do desconhecido, e marulhadas, e ferventes, vieram refletir-lhe no rosto. E as feições tomaram expressão difícil de descrever: os lábios agitaram-se convulsos, os olhos faiscaram fulvo brilho, que se extinguiu em breve. Um doloroso abatimento, que denunciava talvez a recordação penosa e amarga