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— Fernando! – exclamou Luísa, tornando-se lívida, e tiritando de frio.

— Luísa! Luísa, minha querida irmã! – bradou o comendador, correndo para ela, e unindo-a ao seu coração.

Este brado terno e comovido revocou a infeliz mulher a uma vida, que ela já julgava extinta, e esquecendo por um instante todo o amargor que Fernando lhe derramara no coração, sorriu-se para o irmão que amara, e por momentos brilhou-lhe no rosto a alegria, e disse:

— Meu irmão!

E Fernando cedeu então ao mais belo transporte da sua alma, ao único sentimento virtuoso, que Deus aí lhe implantara, e que embalde tinha lutado por abafar, ou destruir.

Fernando combatia há dezoito anos o poder desse amor fraterno, e seu orgulho conseguiu, por algum tempo, o que o coração repugnava, o que a razão e a inteligência condenavam, e o que ele sentia dolorosamente; porque só nesse afeto lhe estava a ventura de toda a sua vida.

E para vencer-se, obstinadamente evitava a vista de sua irmã, a que não poderia resistir, para bem saciar a sua vingança, para bem flagelar-se, flagelando-a na sua desgraça.

Fernando tinha vivido solitário, e desesperado com essa luta terrível do coração com o orgulho: e esses desgostos íntimos, que ele próprio forjava, o tinham embrutecido, e tanto lhe afearam a moral, que era odiado, e temido de quantos o praticavam ou conheciam de nome.

Ele tornara-se odioso e temível aos seus escravos: