nunca fora benigno e generoso para com eles; porém o ódio, e o amor, que lhe torturavam de contínuo, fizeram-no uma fera – um celerado.
Nunca mais cansou de duplicar rigores às pobres criaturas, que eram seus escravos! Apraziam-lhe os sofrimentos destes; porque ele também sofria.
Eis aí pois a alma implacável na maldade do irmão de Luísa.
E Úrsula! Onde estava ela?
Pobre menina! Correu sem tino, e sem consciência do que fazia, porque acabava de reconhecer em seu tio o caçador, cuja voz e cujas expressões não podiam ser esquecidas. Seu aspecto, suas ameaças, seu amor violento e libidinoso já o tornavam repelente, e agora via nele Fernando P., o perseguidor de sua mãe e talvez o assassino de seu pai!...
O coração pulsava-lhe com veemência – parecia querer estalar.
Compreendeu toda a extensão do perigo iminente, que estava sobre sua cabeça. Sua mãe pouco poderia viver, Tancredo estava ausente. O comendador ia triunfar, já não havia dúvida. Oh! Essa ideia era horrível!
Úrsula correu louca por algum tempo, ora invocando a morte, ora maldizendo a hora de seu nascimento, até que afinal, vencida por tão violentos embates, caiu em uma prostração mórbida, donde a preta Susana a veio arrancar para dizer-lhe:
— Ide, ide, que minha senhora lhe quer falar. Ah! Ela não pode tardar.
E abafou-lhe a voz copioso pranto.
Úrsula abriu os olhos, estremecendo, e perguntou:
— Que me queres?
E reparando que a escrava chorava, tornou-lhe enternecida: