Oh! Acredita-me, Túlio, estala-me a garganta de secura. E como não há de assim ser? Desde que aqui chegou meu senhor que não mato o bicho. Arre! E nem uma pinga de cachaça! Nem ao menos uma isca de fumo sequer para o cachimbo.
Então passou pela mente do mísero prisioneiro um lampejo de esperança, respirou com indizível satisfação; mas com arte objetou, afetando repreensivo acento:
— Que mau vício em verdade, pai Antero... Sempre a fumar e a beber. Não vos envergonhais de semelhante procedimento? Que conceito fará de vós o senhor comendador?!
— Que conceito? – interrogou o velho desapontado – Que conceito! É o único vício que tenho; e ainda por conservá-lo não prejudiquei ninguém. Que te importa que beba, – acrescentou com voz que queria dizer: não tens coração. — Por ventura pedi-te algum dinheiro para fumo ou cachaça? – e dizendo afagava a cabaça vazia com um desvelo todo paternal, como que arrependido de tê-la desprezado, a ela, a sua companheira constante.
— Não – respondeu friamente Túlio.
— Pois bem, – continuou o velho – no meu tempo bebia muitas vezes; embriagava-me, e ninguém me lançava isso em rosto; porque para sustentar meu vício não me faltavam meios. Trabalhava, e trabalhava muito, o dinheiro era meu, não o esmolei. Entendes?
— Perfeitamente, – retorquiu Túlio, fingindo sorrir-se.
— Pois ouça-me, senhor conselheiro: na minha terra há um dia em cada semana, que se dedica à festa do fetiche, e nesse dia, como não se trabalha, a gente diverte-se,