— Maldição! Mil vezes o mataria, se mil vidas o inferno lhe tivesse dado.
E Úrsula continuou o seu letargo agitado, e ele recaiu na adoração íntima e silenciosa em que estivera.
Mas o fantasma aí veio persegui-lo; ele fechou os olhos, depois abriu-os para fitá-los sobre a donzela adormecida. E estremeceu.
A presença dessa menina era um remorso vivo para o seu coração; seus olhos cerrados, seus lábios entreabertos, sua respiração curta e anelante, pareciam repetir-lhe: — Assassino!
O comendador tentou espantar do espírito essa ideia, que lhe voltava incessante, e ele caiu em dolorosa prostração, que excitaria dó em quem não soubesse os seus nefandos crimes.
Úrsula estremeceu no leito, torceu os braços com desesperação, lançou-os fora da cama e deixou-os depois cair sobre o peito.
O comendador gemeu de dor e atreveu-se a exclamar:
— Úrsula!
Sua voz era trêmula, e o som fraco e doloroso.
Ao som dessa voz, que lhe despertava tão agudas dores, a moça debateu-se no leito, e convulsa, pálida e angustiada, levantou-se com impetuosidade. Abriu os olhos, e dilatou-os sobre Fernando P., sempre ajoelhado a seus pés, e soltou um grito, que o fez estremecer de angústia.
Depois levou ambas as mãos aos olhos, e um soluçar doído e magoado parecia despedaçar-lhe o aflito peito.
Então esse homem endurecido e cruel vergou ao peso de tão