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Página:Ursula (1859).djvu/184

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mais casto, mais enlevador perfume, como o aroma de uma flor celeste; a essa hora mesma Fernando P., aguilhoado pelos remorsos, só via hórridos fantasmas, que o cercavam.

No rosto pálido e desfeito, as lágrimas escavavam-lhe profundos sulcos; os olhos encovados, vermelhos, e pisados denunciavam a insônia febricitante. Já não era o mesmo, senão no seu amor e na sua desesperação.

A dor enrugou-lhe as faces, os remorsos alvejaram-lhe os cabelos. Tão poucos dias de aflição transformaram-no em um velho fraco e abatido.

Faltavam-lhe forças para ver Úrsula; as noites, e os dias inteiros passava-os aí, ora correndo louco por baixo dessas copadas e seculares árvores; ora rojando-se por terra, arrancando os cabelos e blasfemando horrivelmente de Deus e dos homens.

Aí, a essa hora mágica do crepúsculo, estava ele, como de costume, só, e todo entregue a seus pungentes sofrimentos, quando a branda, mas repreensiva voz de um homem, o sobressaltou.

Era o velho sacerdote.

— Vedes? – lhe disse apontando com o dedo na direção do poente. – É ela, é Susana!

O comendador levantou maquinalmente a cabeça e olhou.

Em uma rede velha levavam dois pretos um cadáver envolto em grosseira e exígua mortalha; iam-no sepultar!

Então Fernando P. estremeceu, porque aos ouvidos ecoou-lhe uma voz tremenda e horrível que o gelou de medo. Era o remorso pungente e agudo, que sem tréguas nem pausa acicalava o seu coração fibra por fibra.