Escondeu o rosto, espavorido, e meneando a cabeça disse:
— Não! Não fui eu!
— Fostes! – tornou-lhe o padre com o acento do que vai julgar. — A infeliz sucumbiu à força de horríveis tratos. Martirizastes a pobre velha, inocente, e que não teve parte na desaparição de Úrsula! Não vo-lo provava seu acento de sincera ingenuidade, sua negativa franca e firme?!
Homem! Porque a encerrastes nessa escura e úmida prisão, e aí a deixastes entregue aos vermes, à fome e ao desespero?!!
Nos derradeiros instantes da sua vida, eu, o indigno ministro do Senhor, estava ao seu lado, e os seus últimos queixumes como que ainda os escuto!
Sorria-se à borda da sepultura; porque tinha consciência de que era inocente e bem-aventurada do céu. A morte era-lhe suave; porque quebrava-lhe o martírio e as cadeias da masmorra infecta e horrenda.
E sabeis vós o que é a vida na prisão? Oh! é um tormento amargo, que mata o corpo e embrutece o espírito! É morrer mil vezes sem encontrar nunca a paz da sepultura! É um sono doloroso e triste do qual o infeliz só vai despertar na eternidade!
E endurecestes o coração ao brado da inocência!... Porque era escrava, sobrecarregaste-a de ferros; negastes-lhe o ar livre dos campos, e entretido com novas vinganças, nem dela mais vos recordastes.
Assassino de Tancredo, de Túlio, de Paulo, e de Susana! Monstro! Flagelo da humanidade, ainda não saciastes a vossa vingança? Ah! Humilhado e em nome de Deus, pedi-vos mercê para os infelizes, salvação para a vossa alma. Desdenhastes as minhas súplicas!