— Meu filho! – murmurou-lhe um piedoso monge – não nos faltam consolações no seio da igreja. Aquele que confia no Senhor parte em sua santa paz.
Depositai no meu coração o segredo de vossas culpas: a penitência é um sacramento, que nos aplaina o caminho do céu.
— Confessar-me, irmão? E para quê?
— Para que as vossas culpas vos sejam perdoadas.
— Não – tornou o moribundo. — Sabeis vós o que vai por esta alma de torturas e ódio? Sabeis? Oh! Tenho o inferno no coração!
— Jesus! Meu Deus! – exclamou o religioso fazendo o sinal da cruz sobre o moribundo. — Irmão, em nome de Deus arredai do mundo o pensamento.
O inferno no coração! Que estais aí a dizer?! O Senhor esclareça as trevas da vossa alma para que possa ela purificar-se. O arrependimento sincero, meu irmão, cura as mais profundas chagas do coração e apaga os mais atrozes crimes.
Entretanto o moribundo não parecia comover-se. Então o frade saiu, e voltando apresentou-lhe um Crucifixo.
— Irmão! – exclamou-lhe. — Eis o Filho de Deus, aquele cujo sacrifício sublime remiu o homem da cadeia da culpa. Encarai-o. É Deus, que vos vem pedir por preço do seu sangue a contrição da vossa alma. Negar-lha-eis?
Frei Luís de Santa Úrsula, ou antes o comendador Fernando P., volveu os olhos já baços pela morte, olhando para o Crucificado e depois para o padre, e disse:
— Amei-a, padre; amei-a mais que ao Filho de Deus, mais do que a salvação da alma, e por amor dela despenhei-