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Página:Ursula (1859).djvu/23

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Deixai ao menos agradecer-vos; mais tarde submeter-me-ei com gosto as vossas determinações.

— Agradecer-me? – interrogou Úrsula com voz um pouco comovida – Que vos hei eu feito que mereça vosso reconhecimento? Pelo céu, nem faleis nisso; e em seus grandes olhos errou uma lágrima.

Não sei que sentimento a trouxe do coração aos olhos; mas fosse qual fosse, o que é verdade, é que a lágrima, semelhando uma pérola escapada a precioso colar, rolou-lhe pelas faces e foi cair sobre a mão do enfermo.

Ela estremeceu involuntariamente, e um rubor subitâneo, que ocultou com as mãos, lhe assomou às faces.

Mas os olhos do cavaleiro, reavendo seu fulgor febril, não viram essa lágrima, que lhe teria escaldado a mão, nem esse inocente rubor tão expressivo; porque começara um novo solilóquio.

— Sim – dizia – e não era feliz em possuí-la? Quê! Oh! Foi um só dia... foi. Mas, minha mãe!... Via-a no sepulcro! E ela era um anjo!... Mataram-na!... Mataram-na!...

E estendia os braços, e sorria-se como afagando benéfica visão.

— Agora posso viver – disse respirando largamente – sim, agora posso viver; porque já a não amo: sim, já não amo aquela que traiu cruelmente minhas loucas esperanças.

— Não vedes? – prosseguiu fitando Úrsula – Como é belo amar-se! Como se nos expande o coração, como nos transborda a alma de felicidade?!...

E a moça dizia consigo — Meu Deus! Meu Deus, que é o que eu sinto no coração que me enternece?