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Página:Ursula (1859).djvu/24

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Deve ser sem dúvida esta forçada vigília, este lidar de todos os momentos. O estado de minha pobre mãe... a compaixão que me inspira este infeliz mancebo, tão próximo talvez da morte!... Oh! Terrível ideia! A morte! É ele tão jovem... Tão leal, e tão franca é a sua fisionomia... Meu Deus! Seria bem duro vê-lo morrer! Poupai-o, Senhor. Se eu pudesse, duplicaria os meus cuidados para salvá-lo! Oh, se eu pudesse!...

O enfermo entrou a sorrir-se; a febre começava a declinar. Ao delírio violento seguiu-se plácida alucinação – parecia que um mundo de gratas ilusões, povoado de meigos seres, o afagava; estendia os braços como para estreitar entes que lhe eram caros e o rosto se lhe expandia suavemente.

Depois sua mão tocou uma mão alva, e trêmula, e gelada: esta mão, que ele em seu delírio procurou com ardor levar aos lábios, fugiu-lhe medrosa ao contato desse beijo de fogo.

— Atende-me – exclamou com desalento – não fujas... Tenho a contar-te uma história bem triste! Oh! Bem triste!...

E estendia as mãos súplices, e já nada encontrava. Túlio contemplava-o silencioso até que por último exclamou:

— Homem generoso! Único que soubeste compreender a amargura do escravo!... Tu que não esmagaste com desprezo a quem traz na fronte estampado o ferrete da infâmia! Porque ao africano seu semelhante disse: — És meu! – Ele curvou a fronte, e humilde, rastejando qual erva, que se calcou aos pés, o vai seguindo? Porque o que é senhor, o que é livre, tem segura em suas mãos ambas a cadeia, que lhe oprime os pulsos. Cadeia infame e rigorosa, a que chamam “