dera-lhe dinheiro correspondente ao seu valor como gênero, dizendo-lhe:
— Recebe, meu amigo, este pequeno presente que te faço, e compra com ele a tua liberdade.
Túlio obteve pois por dinheiro aquilo que Deus lhe dera, como a todos os viventes. Era livre como o ar, como o haviam sido seus pais, lá nesses adustos sertões da África; e, como se fora a sombra do seu jovem protetor, estava disposto a segui-lo por toda a parte. Agora Túlio daria todo o seu sangue para poupar ao mancebo uma dor sequer, o mais leve pesar; a sua gratidão não conhecia limites. A liberdade era tudo quanto Túlio aspirava; tinha-a – era feliz!
E Úrsula invejava vagamente a sorte de Túlio e achava maior ventura do que a liberdade poder ele acompanhar o cavaleiro.
Pobre menina! Toda entregue a uma preocupação, cuja causa não podia conhecer ainda, engolfava-se de dia para dia em mais profunda tristeza, que lhe tingia de sedutora palidez as frescas rosas de suas faces aveludadas. Pouco e pouco desbotava-se-lhe o carmim dos lábios, e os olhos perdiam seus vívidos reflexos, sem que nem ela própria desse fé dessa transformação!
Alguém havia, porém, que reparava nessa mudança, que o coração já lho havia denunciado, fazendo-lhe vibrar nas suas cordas todos os simpáticos eflúvios que emanavam do peito cândido e descuidoso da virgem. Esse alguém amava a palidez de Úrsula, esse alguém adorava-lhe a suave melancolia, e o doce langor de seus negros olhos. Mas ela nem sequer descobrira tal, não sabendo explicar na sua inocência o que sentia.
À proporção que se adiantavam as melhoras do seu hóspede, Úrsula com precaução ocultava-se às suas