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Página:Ursula (1859).djvu/29

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vistas, limitando-se unicamente a informar-se com Túlio da sua saúde, e empregando as horas de seu mortal enfado no generoso desempenho de sua filial solicitude.

Dias inteiros estava à cabeceira do leito de sua mãe, procurando com ternura roubar à pobre senhora os momentos da angustiada aflição: mas tudo em vão porque seu mal progredia, e a morte se lhe aproximava a passo lento e impassível; porém firme e invariável.

À noite, após compridas horas de vigília ao pé desse leito materno, onde ela consumia seus primeiros anos de juventude, a donzela, recolhida em seu gabinete, meditava profundamente. Ela antes tão descuidosa, ela no arrebol da vida, no primeiro despontar da existência, tão bela, tão pura, tão ingênua e tão louçã; porque sentia esse desejo irresistível de engolfar-se em tristes pensamentos, que lhe davam a um tempo prazer e pena?! Onde a levava o ardor da mente? Úrsula, interrogada, mal o saberia dizer.

E as noites tornavam-se para ela longas e fatigantes; porque o sono não lhe abreviava as horas do cismar acerbo, nem lhe reparava as forças, e por isso a aparição da aurora era-lhe quase uma felicidade.

À hora em que os pássaros despertam alegres e amorosos, em que o vento mais queixoso cicia por entre as franças das árvores, em que a relva, orvalhada pela noite, ergue suas folhinhas mais verdes e mais belas, à essa hora mágica em que toda a criação louva ao Senhor, e que o coração sente que nasceu para amar, a donzela, procurando fugir a suas meditações, saía a respirar a pureza da aragem matutina.

Quantas vezes ela, sentada sobre a relva ou recostada a algum tronco colossal, que decepado e meio combusto