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Página:Ursula (1859).djvu/31

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explicação. Era preciso ver Úrsula, e Úrsula fugia-lhe como a caça foge ao caçador. E o dia passava, e vinha a noite, e sucedia-se outro, e mais outro dia, e o moço dilatava a sua viagem.

Em uma madrugada, contudo, após uma noite de atribulada vigília, mais cedo ainda que de costume, a mimosa donzela entranhou-se por acaso no mais espesso da mata, onde não bulia a mais pequena folha, e onde apenas o reflexo do sol nascente penetrava a custo. Divagando por ela sem tino, vencida pelo cansaço sentou-se, ou deixou-se cair sobre as raízes de um jatobá, cuja altura chamaria a atenção de outra que não fora Úrsula, de outra que não sentira, como ela, o coração oprimido por mortal desassossego. Este jatobá, sobre cujas raízes Úrsula se deixara cair, parecia em anos rivalizar com a criação; sua copa altaneira, balançando-se no espaço, derramava grata sombra em larga distância. Aí em seu tronco, a natureza, melhor que um hábil artista, entalhara em derredor espaçosos degraus, como outros tantos assentos preparados para descanso dos que à sua sombra buscassem uma hora de repouso, ou de meditativo cismar.

Úrsula sentou-se sem o menor reparo num desses degraus, e continuou nos seus pensamentos loucos, ou talvez inocentes como a sua alma; mais profundos, penosos para ela, que pela vez primeira sentia a necessidade de uma alma que compreendesse a sua, de um pensamento que se harmonizasse como o seu.

Mas amava ela a alguém? Ao cavaleiro? Talvez! Úrsula sentia uma vaga necessidade de ser amada, de amar mesmo; mas em quem empregar esse amor, que devia ser puro como a luz do dia, ardente como o fogo de madeira resinosa?! Em quem? Não o sabia ainda.

Úrsula, malgrado seu, experimentava todo