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Página:Ursula (1859).djvu/33

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E de repente ela ouviu uma voz, que a essa hora do amanhecer, nesse lugar, onde se julgava só, a surpreendeu, assustou-a, e lhe arrancou um grito.

— Úrsula! – dizia-lhe a pessoa que estava ante seus olhos. – Úrsula, perdoar-me-eis?

— Oh! Pelo céu, Senhor! – exclamou a moça a tremer. – Que viestes aqui fazer?!

E levantou-se resolvida a deixá-lo, castigando assim tanta ousadia. O mancebo, antevendo a sua resolução, caiu-lhe aos pés e, suplicante, disse-lhe:

— Oh! Não, não, Úrsula, por amor de vossa mãe, não me deixeis sem ouvir-me.

E tanta singeleza havia nestas palavras, e tanta expressão nos olhos do mancebo, que a donzela estacou indecisa e confusa.

Era o cavaleiro convalescente o homem que assim falava, como o leitor perspicaz tê-lo-á já adivinhado.

Nesse momento tão solene para Úrsula, sentiu profundo arrependimento de seus passeios da alvorada, e rápido pela mente repassou todos os últimos atos de sua vida, sem atinar com o motivo que a levou tão longe de sua morada, e a um bosque que nunca vira, e porque fatalidade aquele homem a viera aí surpreender.

Úrsula, amando vê-lo, arrependia-se, e quase que maldizia o sentimento de seu coração, que a obrigara a ir tão longe, e a ter, a seu pesar, aquela entrevista que tanto começava a inquietá-la, e lembrando-se de sua mãe, que tudo ignorava, exprobava-se a si acremente de tão leve procedimento.

— Úrsula, – continuou o mancebo, reconhecendo sua perturbação – Úrsula, mimosa filha da floresta, flor educada da tranquilidade dos campos, porque tremeis de me ouvir a voz?! Julgais acaso que vos possam ofender