o coração desfeito em transportes de inefáveis doçuras sonhava as venturas do paraíso. E sua inquietação, e suas noites de vigília, já não eram para ela um penoso mistério, ou uma forçada dissimulação. Úrsula confessou a si mesma, que aquilo que sentira, era verdadeiro e ardente amor.
E Adelaide – essa mulher, esse nome proferido em delírio, que lhe aparecia em seus sonhos como uma visão que incomodava, deixava de agora em diante de ocupar-lhe o pensamento; porque o mancebo havia dito: — Esqueci-a, perdoei-a por amor de vós. Mas, inda assim, quem seria ela que tanto amor lhe tinha merecido?
Que lhe importava? Era feliz; porque era amada, e sua vida inteira teria dado por esse momento de ventura.
Amor! Esse sentimento novo – ardente como o sol do seu país, arrebatador como as correntes, que se despenham no vale – foi a varinha mágica que lhe transformou a existência. Julgou tudo um sonho encantador, cujas doçuras começava apenas a apreciar.
Extasiada e louca de amor, a donzela embalde procurava reaver a razão; e mais embalde procurava interrogar-se a si mesma – quem seria aquele homem, que assim atraía o seu coração? Porque este só lhe dizia: – Amá-lo é viver, e a vida assim vivida é a eternidade no gozo.
— Úrsula, – disse o mancebo, comovido, após de um longo silêncio – devo-vos a fiel narração de minha vida. O homem que vos ama, que vos idolatra, o homem que vos escolhe para sua esposa, não vos deve ocultar a mínima particularidade da sua triste existência; e depois que me tiverdes ouvido, depois que souberdes