Página:Ursula (1859).djvu/37

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quem é o cavaleiro que tendes ao vosso lado, dai-lhe o vosso coração, dizei-lhe que o amais, e ele será uma vez feliz, uma só na vida; mas esta felicidade deve ser tão grande, que o seu passado cairá para sempre em um abismo de profundo esquecimento. Porém, Úrsula, se me recusardes essa ventura, a única que almejo, a minha vida tornar-se-á um prolongado martírio, e quem sabe se a poderei suportar!?...

— Oh! – exclamou a donzela com interesse – pesa-vos acaso no coração tão pungente mágoa?!

— Sim – tornou ele comovido – sim, grande tem sido o meu sofrimento. Julguei, Úrsula, nunca mais amar, e morrer amaldiçoando meu primeiro amor; mas eu vo-lo disse já – vi-vos e meu coração cobrou nova vida, e novo amor curou-lhe as feridas, que o destruíam. Agora, decidireis da minha sorte: feliz, ou desgraçado, Úrsula, só vós sereis o meu amor.

Então os olhos da donzela desferiram brilhantes reflexos de amor, e cedendo a um transporte de indefinível entusiasmo, exclamou:

— Sejais vós, senhor, quem quer que fordes, quaisquer que sejam os precedentes da vossa vida, que generosamente prometeis confiar-me, aqui, na solidão silenciosa e grave desta mata, onde só Deus nos ouve, onde só a natureza nos contempla, juro-vos pela vida de minha mãe, que vos amarei agora e sempre, com toda a força de um amor puro e intenso, e que zombará de qualquer oposição donde quer que parta.

— Vós?! Repeti, repeti ainda uma vez essas inebriantes palavras que me transportam!

— Sim – tornou ela, cujos olhos cintilavam como dois astros luminosos e diziam mais que os lábios, e