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Página:Ursula (1859).djvu/42

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porque amava-a com uma ternura que só vós podeis compreender. Num dia recebi o grau de bacharel e noutro segui para a minha terra natal.

Ah! Como me transbordava a alma de prazer! Eu vinha rever aquela que cercara de amor e de cuidados a minha infância!

Afeição alguma me pôde reter em São Paulo; minha mãe, o lugar onde eu tive meu berço, meus amigos de infância, não os podia esquecer. Parti pois com prazer duma terra onde tinha vivido longos anos de saudade e de pesares.

E eu vi essa mulher, que me dera a vida, essa mulher, que era ídolo do meu coração, e lancei-me nos seus braços, chorando de alegria por tornar a vê-la; mas ela estava desfeita, e suas feições denunciavam grande abatimento moral.

Nunca tive felicidade a que se não viesse misturar sentimentos de angústia; nunca fui completamente feliz.

— Sê-lo-eis ainda – disse-lhe a donzela com indefinível ternura.

— Sim, agora o creio – respondeu ele com confiança. — Vós, Úrsula, sois a mulher com quem sonhava minha alma em seu contínuo devanear.

— E junto de minha pobre mãe – continuou o cavaleiro, após breve silêncio – eu vi uma mulher bela e sedutora, dessas que enlouquecem desde a primeira vista.

No primeiro transporte de alegria, enquanto minha mãe chorava de satisfação, ela com os olhos fitos em um bordado, que tinha entre as mãos, parecia distraída; e eu revia-me na sua beleza tão pura como a estrela da manhã.