Oh! Minha doce Úrsula, eu amei a essa encantadora donzela, e o meu amor foi puro, arrebatador; mas ela não o compreendeu.
— Meu filho – disse-me minha mãe, apresentando-me a formosa donzela – eis Adelaide, a minha querida Adelaide. É filha de minha prima, e órfã de mãe e pai. Recolhi-a e amo-a como se fora minha própria filha.
— Tancredo – continuou – não poderei esperar de ti desvelada proteção para aquela que adotei por filha, para aquela que tem enxugado as lágrimas de tua mãe na ausência de seu filho?!...
— Minha Úrsula adorada, de joelhos prometi a minha infeliz mãe ser o escudo da formosa órfã.
Então ela, em sinal de reconhecimento, estendeu-me a mão, que apertei com enlevo. Creio que meus olhos exprimiam algum sentimento terno a seu respeito; porque seu rosto se tingiu de carmim, e depois um débil suspiro, como que a muito reprimido, saiu meio abafado de seus róseos lábios.
Ouvi-o, e julguei, – louco de mim! – que esse suspiro era a primeira expressão de um repentino e profundo afeto: julguei que sonhava, porque nunca havia sentido o que então se passava em mim.
Mais tarde, veio meu pai felicitar-me. Mostrava-se feliz e orgulhoso de seu filho; e abraçou-me com transporte.
Não sei por quê; mas nunca pude dedicar a meu pai amor filial que rivalizasse com aquele que sentia por minha mãe, e sabeis por quê? É que entre ele e sua esposa estava colocado o mais despótico poder: meu pai era o tirano de sua mulher; e ela, triste vítima, chorava em silêncio, e resignava-se com sublime brandura.