— Tendes razão! – disse-lhe, porque as recordações do passado se erguiam ante mim como pavorosos fantasmas de dor e de vergonha. – Creio no entanto que ele cederá a seu filho o único favor que lhe há pedido em toda a vida.
— Duvido! – replicou, abanando tristemente a cabeça – Meus filhos, o céu que lhe ilumine as trevas do pensamento cobiçoso e que eu os veja unidos e felizes.
— Sim, minha boa e terna mãe – lhe tornei com convicção – haveis de ver-nos felizes, e vós o sereis também. Estou que meu pai não me poderá negar a esposa que meu coração escolheu.
Notei que meu pai começou a ser mais comunicativo e mais tratável, e com isso minhas esperanças robusteciam e minha mãe cedeu a essa enganosa ilusão.
Oh! Como escoaram felizes esses dias! Eu amava, e meu amor correspondido bastava para a minha ventura.
Todo embevecido no meu amor, não curava de meus interesses e nem de ilustrar meu nome na carreira pública. Toda minha ambição era essa mulher tão loucamente amada. Mas isto não podia durar muito – era ventura demais para um pobre mortal.
Era o dia dos anos de Adelaide. Esse dia! Que amargas recordações me traz!...
Decidi-me a ir comunicar a meu pai o segredo do meu coração – esse segredo que me transbordava já da alma, e que ele fingia não conhecer.
— Qualquer que seja a impressão que a meu pai possam causar minhas palavras, – disse a minha mãe – Adelaide há de ser minha.
Ela olhando-me com severidade, redarguiu:
— Tancredo, não chames sobre ti a cólera de teu pai.