Oh! Deus não protege a quem se opõe à vontade paterna!
Baixei os olhos confuso e magoado, e quando os ergui duas lágrimas lhe sulcavam o rosto.
— Oh! Minha pobre mãe – exclamei reconhecido – perdoai-me!
Então ela sorriu-se, porém seu sorriso era amargo e terno a um tempo!
Ah! Ela temia seu esposo, respeitava-lhe a vontade férrea; mas com uma abnegação sublime quis sacrificar-se por seu filho.
— Irei eu – disse-me, e saiu.
Corri para o meu quarto, contíguo ao de meu pai, e ouvi tudo quanto se passou entre ele e minha mãe.
O que ouvi, ainda hoje enche-me de espanto, e reconheci desde então que meu pai era mais desapiedado e cruel do que imaginava.
E minha desditosa mãe tudo arrostou, porque era a causa de seu filho que advogava! Era às vezes tão débil e trêmula a sua voz, e tão áspera e violenta a de meu pai, que seus acentos chegavam a meus ouvidos como a queixa ao longe de sentida rola.
Mas outras vezes vinha ela aos meus ouvidos, e eu acreditei que era minha mãe uma santa.
Deus meu! Parece-me que inda a escuto!
A mansidão com que se exprimia desarmaria a uma fera; mas meu pai irritado e fora de si exclamou com voz terrível, que ecoou medonha em meus ouvidos.
— E acreditastes, senhora, que eu consentiria em semelhante união? Estais louca? Sem dúvida perdestes a razão. Ide-vos, e não continueis a alimentar no coração desse louco uma esperança que jamais lhe deveria ter nascido.