Página:Ursula (1859).djvu/54

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— Cala-te, – interrompeu ele mudando de tom – nada de recriminações. Podes seguir – continuou – as tuas inclinações, teu pai não te estorvará a carreira.

E com certo sorriso, meio fagueiro, perguntou-me:

— Poderei saber o que aqui te trouxe?

— Então, não atinastes ainda com o motivo da minha visita? – disse-lhe. — Pois bem, explicá-lo-ei se o permitirdes.

— Fala. – disse-me friamente.

— Já não podeis ignorar, senhor – comecei – que amo com paixão a jovem Adelaide, e que é ela digna da minha mão: uma só palavra vossa bastará agora para a minha completa ventura. O vosso consentimento, senhor, para desposá-la, que o meu reconhecimento será eterno e profundo.

— Deveras? – interrogou, fitando em mim seus olhos com indefinível altivez, e depois cravando-os no chão, guardou profundo silêncio, que eu não ousei quebrar; porém mais tarde compondo o rosto avermelhado e severo, objetou com voz firme; mas pausada, grave, e sem cólera:

— Meu filho, tenho pensado madura e longamente sobre os teus amores – são uma loucura!

— Loucura! – exclamei com ânsia – Loucura, meu pai? Porque o dizeis? Porque é ela pobre! Oh! A um tesouro de riquezas é preferível seu coração.

Escutou-me sem alterar-se, e depois perguntou-me pesando cada uma de suas palavras.

— Sabes tu quem era o pai dessa menina? Não te falarei, – continuou – de seus cofres vazios de ouro pelo seu péssimo proceder; mas, Tancredo, sobre o nome desse homem pesa uma...