Página:Ursula (1859).djvu/66

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meigamente as penas de seu leque dourado.

Alucinado por beleza tão radiante, corri para ela, exclamando:

— Adelaide! Minha Adelaide!

E naquele momento, seduzido pelos seus encantos, louco pela ventura de vê-la, esqueci a mágoa, que me doía no coração, da perda de minha mãe. Estendi-lhe os braços, e as expressões morreram-me nos lábios; e depois curvando-me ante ela, ia tomar-lhe as mãos, e beijá-las com efusão; mas ela então altiva e desdenhosa disse-me com frieza, que me gelou de neve.

— Tancredo, respeitai a esposa de vosso pai!

Oh! Não sei como não enlouqueci! Em trevas de desesperação tornou-se-me a luz dos olhos, e todo o salão parecia ondular sob meus pés. A mulher que tinha ante meus olhos era um fantasma terrível, era um demônio de traições, que na mente abrasada de desesperação figurava-se-me sorrindo para mim com insultuoso escárnio. Parecia horrível, desferindo chamas dos olhos, e que me cercava e dava estrepitosas gargalhadas. Erguia-se para mim ameaçadora, e abraçava e beijava outro ente de aspecto também medonho, ambos no meio de orgia infernal cercavam-me e não me deixavam partir.

Se durou muito este fatal pesadelo, não o posso dizer. Quando acordei debatia-me no tapete aos pés dessa mulher orgulhosa.

Dissiparam-se-me as trevas, a luz volveu-me e com ela apagaram-se as ondas de fogo, que rodeavam essa pérfida criatura. Encarei-a de face – estava impassível e fria como a estátua do desengano.

Levantei-me cheio de desesperação e ódio.

Adelaide permanecia indiferente.