Saltar para o conteúdo

Página:Ursula (1859).djvu/69

Wikisource, a biblioteca livre

gastarei aqui; porque também me incomoda a vossa presença; porque nesta casa respira-se um hálito pestilento; porque aqui enfim estais vós. Pouco me demorarei – só quero dizer-vos:

— Mulher odiosa! Eu vos amaldiçoo. Por cada um dos transportes de ternura, que outrora meu coração vos deu, tende um pungir agudo de profunda dor; e a dor, que me dilacera agora a alma, seja a partilha vossa na hora derradeira. Por cada uma só das lágrimas de minha mãe choreis um pranto amargo; mas árido como um campo pedregoso, doído como a desesperação de um amor traído. E nem uma mão que vos enxugue o pranto, e nem uma voz meiga que vos suavize a dor de todos os momentos. O fel de um profundo, mas irremediável remorso, vos envenene o futuro e o desejado prazer, e no meio da opulência e do luxo, firam-vos sem tréguas os insultos de impiedosa sorte. Arfe o vosso peito, e estale por magoados suspiros, e ninguém os escute; e sobre esse sofrimento terrível cuspam os homens e riam-se de vós.

A voz de todo se me extinguiu, e eu saí louco de desesperação e de dor da casa de meus pais, da casa onde tão leda se passou a minha primeira idade!

Após um momento de silêncio, o cavaleiro disse à filha de Luísa B.: — Eis, Úrsula, a fiel narração da minha vida, eis os meus primeiros amores; o resto toca-vos. Fazei-me venturoso. Oh! Em vossas mãos está a minha sorte.

A donzela, comovida, não pôde falar e estendeu-lhe a mão, que ele beijou com amor e reconhecimento.