Página:Ursula (1859).djvu/75

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em dizer, reparando nessa penosa reticência – falai, não sabeis que nutro satisfação em escutar-vos?

— Ah! Senhor – exclamou Luísa B. reprimindo amarguradas lágrimas – sou tão desditosa, que falando de mim, só poderia dizer-vos coisas tão tristes e fastidiosas, que vos cansaríeis de as ouvir.

— Pelo contrário, – disse o mancebo – grande é o interesse, que me inspirais: quaisquer que sejam as vossas desditas, e por mais longa que seja a narração delas, eu as escutarei, e tomarei por elas todo o interesse.

— Sem dúvida, minha pobre Úrsula, tinhas razão quando, tocada pelo generoso proceder do vosso hóspede, me falavas de suas bondades, e de seus delicados pensamentos.

Então o mancebo inclinou-se para a donzela em sinal de gratidão, e viu-lhe pender dos olhos uma lágrima, que do fundo do coração lhe arrancava a saudade de tão forçada separação.

Essa lágrima transportou de amor ao jovem adorador da filha do deserto, e ele desejou bebê-la em um longo e ardente beijo, e seu coração jurou de novo que aquela mulher angélica seria a doce companheira da sua peregrinação na terra. E quando ela houver deixado de existir, acrescentava ele em seu sonhar delicioso, eu a seguirei na campa, e lá numa outra vida, onde tudo é amor, pureza, e santidade, lá, redobrando de amor e de ternura, viveremos unidos para sempre.

E a senhora B., notando que seu hóspede estava comovido, e atribuindo ao exórdio da sua conversão a comoção do mancebo, apressou-se em dizer-lhe: