Página:Ursula (1859).djvu/76

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— Perdoai-me, senhor; uma pobre mulher enregelada pela doença, e pela morte, que se lhe aproxima, deve falar com toda a franqueza, e demais, a sensibilidade do meu coração ainda existe, e o céu permitiu-me simpatizar com as ações nobres, e desinteressadas. Eu amei, senhor, o vosso procedimento.

— Obrigado! Minha senhora. – murmurou o mancebo inclinando-se.

— Continuai, eu vos escuto.

— Há doze anos – começou Luísa B. suspirando aquele suspiro que vem do fundo da alma, não para comover a outrem, e captar a sua atenção, ou a sua bondade; mas aquele suspiro que é o momentâneo, mas triste alívio de um sofrimento apurado e baldo de toda esperança. – Há doze anos que arrasto a custo esta penosa existência. Deus conhece o sacrifício, que hei feito para conservá-la. Parece-vos isto incompreensível? – interrogou ela ao mancebo, que atento a escutava. – Sou mãe, senhor! Vede minha pobre filha! É um anjo de doçura e de bondade, e abandoná-la, e deixá-la só sobre este mundo, que ela mal conhece, é a maior dor de quantas dores hei provado na vida. Sim, é a maior dor – continuou ela com amargo acento – porque então perderá o único apoio que ainda lhe resta! Ao menos se meu irmão pudesse esquecer o seu ódio, e protegê-la!...

— Vosso irmão, senhora? – interrogou o cavaleiro, como admirado de que um irmão pudesse odiar a sua irmã.

— Sim – tornou ela – meu irmão. Mas, senhor, ele é implacável no ódio, e nunca o esquecerá.

— Não é possível, senhora. – objetou o cavaleiro – Vosso irmão, quem quer que seja, não vos pode odiar. O