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diario de bordo. O caso dos Albatrozes foi um delles.

Gerebita metteu-se no pharol aos vinte e tres annos. E' raro isso.

— Quem é Gerebita?

— Sabel-o-ás em tempo. E' raro isso porque no geral só se mettem nas torres maritimos erados, quarentões batidos pela vida e descrentes das suas illusões. Deixar a terra na quadra verdolenga dos vinte annos é apavorante. A terra!... Nós mal damos tento da nossa profunda adaptação ao meio terreno. A sua fixidez, o variegado dos aspectos, o bulicio humano, a cidade, os campos, a mulher, as arvores... Sabem os pharoleiros melhor do que ninguem o valor dessas teias.

Enlurados num bioco de pedra, tudo quanto para nós é sensação de todos os instantes nelles é saudade ou desejo. Cessam os ouvidos de ouvir a música da terra, rumorejo de arvoredo, vozes amigas, barulho da rua, as mil e uma noites d'uma polyphonia que nós sabemos que o é, e encantadora, unicamente quando uma segregação prolongada nos ensina a lhe conhecer o rythmo. Cessam os olhos de rever as imagens que desde a meninice lhes são habituaes. Para os ouvidos só ha ali, dia e noite, anno e anno, o marulho das vagas ás chicotadas no enrocamento da torre. Para a vista, a eterna massa que ondula, ora torva, ora azul.

Variante unica trazem-n'a as velas que passam de largo, donairosas como garças, ou os transatlanticos pennachados de fumo.

Figura tu a vida de um homem, desraigado á querencia, e assim posto, qual galé, dentro d'uma torre de pedra, grudada como