Página:Verso e reverso - comedia em dois actos.djvu/68

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ERNESTO – Estou mudo como um governista. Vamos ao zangão! JÚLIA – Enquanto estávamos embebidos a olhar aquele trabalho delicado, víamos um besouro parecido com uma abelha, que entrava disfarçado no cortiço; e em vez de trabalhar, chupava o mel já fabricado. Não via? ERNESTO – O que eu me recordo ter visto perfeitamente eram dois olhozinhos travessos... JÚLIA (batendo o pé) – Via sim; eu lhe mostrei muitas vezes. ERNESTO – Está bom! Já, que deseja, confesso que via; via com seus olhos! JÚLIA – Pois suponha que a Praça do Comércio é uma colmeia: e que o dinheiro é um favo de mel. Este sujeito que saiu daqui é o besouro disfarçado, o zangão. Os corretores arranjam as transações, dispõem os negócios; vem o zangão e atravessa os lucros. ERNESTO – Compreendo agora o que é o zangão; é uma excelente profissão para quem não tem nada que fazer, e demais bastante útil para a sociedade. JÚLIA – Útil