Página:Versos da mocidade (Vicente de Carvalho, 1912).djvu/40

Wikisource, a biblioteca livre


18
VERSOS DA MOCIDADE


No olhar com que nem me fitas,
Noute, noute sempre escura
— Cheio de ilusõis bemditas,
Sonho auroras de ternura.

Quando acaso me acontece
Ouvir-te a fala suave,
Enlevado, me parece
Que a vida é um gorjeio de ave.

Nesta tristeza em que eu ando
Tua voz canta em minha alma
Como um rouxinol cantando
Dentro de uma noute calma.

Passas, e eu vejo-te; falas
E ouço-te a voz: e esse pouco
Enche de esplendidas galas
Toda a minh’alma de louco.

Mas vais-te — e vai-se comtigo
Tudo quanto, num momento,
A minh’alma, esse mendigo
Sonhou num sono ao relento...