ARDENTIAS
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Depois, um dia, a um pôr de sol saudozo
— Ia o inverno chegando —
Todas, uma por uma, abrindo no ar
O vôo silenciozo,
Fôram voando... voando...
E afundaram na sombra do crepusculo
Para não mais voltar...
Ai, o primeiro amor! Quem as não teve,
Na alegre madrugada dos quinze anos,
As iluzões da dolescencia calma,
Antes que a fria neve
Dos tristes dezenganos
Lhe amortalhasse a alma?
Vêm, quando é primavera,
Como um bando de passaros joviais;
Mas, ao fujir a primavera, vão-se,
Vão-se, e não voltam mais.
Vêm-nos ao coração, ruidozamente
Cantando cantos de alegria; e á sua
Fuga, deixam em nós toda a tristeza
De uma floresta desfolhada e nua...