Página:Viagem ao norte do Brasil (1874).pdf/196

Wikisource, a biblioteca livre
132

e descançando n’esta esperança vou fallar de algumas raridades, que notei ahi, cortando as difficuldades que se apresentam á primeira vista por meio de razões boas e naturaes.

 


CAPITULO XXXVI

Dos astros e do sól.


É bello e magnifico o Ceo, n’esta zona tórrida, embora pareça muito menos estrellado do que na Europa, isto é, não apparecem tantas estrellinhas fixadas na abobada azulada d’aquelle como acontece na do nosso, pois no Maranhão ha estrellas maiores e brilhantes, e mais luzentes do que aqui.

Não me convenço de lá não haverem menos estrellas do que aqui, antes esta falta, que noto, attribuo á minha vista, e por mais esta razão.

Todos os que habitam fóra dos dois solsticios, Cancer e Capricornio, olham obliquamente o centro do ceo, que é a linha ecliptica ou zona tórrida, onde passa o sol, e por tanto tem maior horisonte, ou maior espaço do ceo a contemplar, e menos numero de estrellas a contar.

É pela experiencia confirmada esta razão, porque nasce e deita-se o sol, sem preceder aurora, e assim acaba o dia e começa a noite, e si ha tarde ou manhã é quasi nada.

Na Europa acontece o contrario, pois algumas vezes temos mais de duas horas de tarde, e outras tantas de manhã, antes do nascimento e do occaso do sol, porque os habitantes da zona tórrida estão na esphéra direita e nós outros na obliqua.