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corpulentas, que de ordinario nascem com as outras, como o zangão entre as abelhas, e em quanto são pequenas e fracas, trabalham conjuntamente sem fazerem barulho, e nem se offenderem.

Quando grandes e fortes deixam as outras, fazem bando á parte, só e só, não vivem mais em companhia, e põem se de embuscada pelo caminho, onde costumam passar suas irmãs e parentas, como fez antigamente Abimelech, bastardo de Gedeon, sobre os 70 filhos legitimos de seo pae, seos proprios irmãos, os quaes matou todos sobre uma pedra em Ephra.

Sirva d’isto ao leitor para applicar como julgar acertado.

Eis como os nossos selvagens se distrahem mais utilmente com estes animaes, do que os nossos rapazes com as borboletas: de tudo se aproveitam e nada perdem, reunindo o util ao agradavel.

Vejamos o resto.

A caça dos lagartos, chamados pelos TupinambásTarure (os grandes) e Toju (os pequenos,) é feita por diverso modo,[NCH 72] conforme são da terra ou do mar.

Os maritimos habitam ordinariamente as praias cobertas de mangues, onde, duas vezes dentro do espaço de 24 horas, entra o mar.

Ahi nutrem-se de carangueijos, de mexilhões, e de camarões, vulgarmente chamados em França — lagostins, e de peixes, que apanham na enchente.

Poem seos ovos nos concavos das arvores.

Os selvagens caçam-nos e flecham-nos na vasante; enterrando-se pelo tujuco.

Para comida servem tanto como os coelhos, ou uma grande lebre, conforme o tamanho do animal.

Fervem-nos para fazer mingau, ou assam-nos ao fumeiro.

Os francezes assam-nos ao espeto, bem untado de gordura de peixe-boi, e a primeira vista pensareis que são coelhos ou lebres espetadas.