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Caçam principalmente os gaviões, parecidos com as pombas brancas, que vivem nas praias, saltando de ramo em ramo, esperando a vinda de passarinhos para assaltal-os e agarral-os. Ahi vão as aguias caçal-os, e despedaçal-os n’um momento.

Nutrem-se tambem de tartarugas do mar e de terra, e não poupam a alguma serpente ou cobra que por ventura encontrem.

Raras vezes podem os selvagens pilhal-as de geito para flechal-as.

Trepam-se no cume das arvores, onde expandem as azas aos raios do sol, tirando com seo bico as pennas velhas, que por esse estado ja não servem: ahi vão os selvagens buscar estas pennas para seo uso.

Assimelham-se muito na fórma e côr ás pennas dos gallos da India, e são muito boas para escrever.

Alem d’estas aguias ha passaros grandes chamados uira uaçú, quasi do tamanho dos abestruses da Africa,[NCH 80] mais compridos, porem não tão grossos.

Os grous de lá parecem-se com os pardaes. Si algum foi para a França, levado por nossos companheiros, saibam que ha outros ainda mais grossos.

Agarram-nos os selvagens quando pequenos, e para isso procuram a occasião em que os paes vão caçar.

São brancos quando pequenos, mechem-se pouco a pouco, e vão mudando até que alcance suas pennas e cor verdadeiras.

São muito glutões, e parece que não se fartam, porem quando comem é por muitos dias.

Si os macacos pudessem persuadir os selvagens a extinguir essa raça, o fariam indubitavelmente, porque perdem milhões dos seos para sustento d’ellas.

Os Tupinambás, que criam estes passaros, conhecem que a melhor carne, que se lhes pode dar, é a de macacos, e para isto vão ao matto caçal-os e matal-os.