Página:Viagens na minha terra, v2 (1846).pdf/118

Wikisource, a biblioteca livre
— 108 —


Mas é injustiça minha. Que culpa tem ella, coitada?

Ai Santarem, Santarem, abandonaram-te, mataram-te, e agora cospem-te no cadaver.

Santarem, Santarem, levanta a tua cabeça coroada de tôrres e de mosteiros, de palacios e de templos!

Mira-te no Tejo, princeza das nossas villas: e verás como eras bella e grande, ricca e poderosa entre todas as terras portuguezas.

Ergue-te, esqueleto colossal da nossa grandeza, e mira-te no Tejo: verás como ainda são grandes e fortes esses ossos desconjuntados que te restam.

Ergue-te, esqueleto de morte, levanta a tua foice, sacode os vermes que te poluem, esmaga os reptis que te corroem, as osgas torpes que te babam, as lagartixas peçonhentas que se passeiam atrevidas por teu sepulchro deshonrado.

Ergue-te Santarem, e dize ao ingrato Portugal