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ou com o infadonho resonar d’aquella adormecida orchestra de San’Carlos!

A injoativa traducção de uma comedia da Rua-dos-condes, roída de incuravel syphilis, figura-se avelludada de todas as graças do stylo de Scribe.

E o destempêro original de um drama plusquam romantico, laureado das imarcessiveis palmas do Conservatorio para eterno abrimento das nossas bôccas! Lá de longe applaude-o a gente com furor, e esquece-se que fummou todo o primeiro acto ca fóra, que dormiu no segundo, e conversou nos outros, até á infallivel scena da xacara, do subterraneo, do cemiterio, ou quejanda, em que a dama, soltos os cabellos e em penteador branco, indoudece de rigor, — o gallan, passando a mão pela testa, tira do profundo thorax os tres ahs! do stylo, e promette matar seu proprio pae que lhe appareça — o centro perde o centro de gravidade, o barbas arrepella as barbas... e maldicção, maldicção, inferno!... ’Ah mulher indigna, tu não sabes que n’este peito ha um coração, que d’este coração sahem umas arterias, d’estas arterias umas veias — e que n’estas veias corre sangue...