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creio na sciencia, felizmente — n’este caso — para a minha consciencia. Tambem não sei o que faria se a caveira fosse de outro homem. Mas o ’fraco rei’ que fez ’fraca a forte gente’ não são reliquias as suas que se guardem.

Oh! e quem sabe? Ésta profanação, este abandôno, este desacato do tumulo de um rei, alli na sua terra predilecta — D. Fernando era santareno de affeição — não será elle o juizo severo da posteridade, a vindicta pública dos seculos, que tardia mas ultrajante, cai emfim sôbre a memoria reprovada do mau principe, e lhe deshonra as cinzas como ja lhe deshonrára o nome?

Quero acreditar que tal não podia succceder aos tumulos de D. Diniz, de D. Pedro I, dos dois Joannes I e II, de...

Sim: e aonde está o de Camões? O de Duarte Pacheco aonde esteve? que ainda é mais vergonhosa pergunta ésta última.

Em Portugal não ha religião de nenhuma especie. Até a sua falsa sombra, que é a hypocrisia, desappareceu. Ficou o materialismo estupido,