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alvar, ignorante, devasso e desfaçado, a fazer gala de sua hedionda nudez cynica no meio das ruinas profanadas de tudo o que elevava o espirito...

Uma nação grande ainda poderá ir vivendo e esperar por melhor tempo, apezar d’esta paralysia que lhe pasma a vida d’alma na mais nobre parte de seu corpo. Mas uma nação piquena, é impossivel; hade morrer.

Mais dez annos de barões e de regimen da materia, e infallivelmente nos foge d’este corpo agonizante de Portugal o derradeiro suspiro do espirito.

Creio isto firmemente.

Mas ainda espero melhor todavia, porque o povo, o povo povo, está são: os corruptos somos nós os que cuidâmos saber e ignorâmos tudo.

Nós, que somos a prosa vil da nação, nós não intendemos a poesia do povo; nós, que so comprehendemos o tangivel dos sentidos, nós somos extranhos ás aspirações sublimes do senso-íntimo