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em que doçuras da vida não predomina sempre o acido poderoso que stimula! Tirae-lh’o, fica a insipidez; deixae-lh’o, ulcéra porfim os orgams: o gôso é mais vivo porque a acção do stímulo é mais sentida... mas a ulceração cresce, o coração está em carne-viva... agora o prazer é martyrio.

Infeliz do que chegou a esse estado!

Bemaventurado o que póde graduar, como Goethe, a dóze d’amphião que quer tomar, que poupa as sensações e a vida, e economiza as potencias de sua alma! N’esses porêm é a imaginação que domina, não o sentimento. Byron, Schiller, Camões, o Tasso morreram moços; matou-os o coração. Homero e Goethe, Sophocles e Voltaire acabaram de velhos: sustinha-os a imaginação, que não despende vida porque não gasta sensibilidade.

Imaginar é sonhar, dorme e repousa a vida no entretanto; sentir é viver activamente, cansa-a e consomme-a.

Isto é o que eu pensava — porque não pensava