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um sol de maio, feria os estreitos vidros da pequena janella que so dava luz áquelle quarto: a excessiva claridade era velada por uma longa e ampla cortina.

Carlos lançou derepente a mão a essa cortina e a affastou para avivar a luz do aposento. Um raio agudissimo de sol foi bater direito no macerado rosto do frade, e reflectiu de seus olhos incovados, um como relampago de íra celeste que fez estremecer os dous amantes.

Não foi porêm senão relampago; sumiu-se, apagou-se logo. Aquelles olhos ficaram mortaes, mudos, fixos, invidraçados como os de um homem que acabou de expirar e a quem não cerraram ainda as palpebras.

E assim mesmo aquelles olhos tinham o podêr magnetico de fixar os outros, de os não deixar nem pestanejar.

Curvo, incostado a um bordão grosseiro, o seu chapeo alvadio debaixo do braço, o frade deu alguns passos tremulos para onde estavam os dous, arrastando a custo as sôltas alpercatas que davam