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Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/110

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ergueu-se da cadeira, olhou um pouco a janela, depois voltou-se e disse, destacando palavra por palavra:

— Está escuro. Acende as luzes, Manuel.

E os bicos de gás foram acesos vagarosamente. O velho piano Erard, de cauda, monstruoso, muito grande, surgiu todo inteiro na sala iluminada, como um animal fantástico. Mal as luzes brilharam, a paz externa quebrou-se. Houve um pequeno sussurro e a vida das coisas continuou.

— D. Escolástica não toca?

Esta pergunta eu lhe fiz por mera polidez, visto que a sua avançada idade já a devia ter separado do velho instrumento.

— Há trinta e tantos anos que não.

— Desgostou-se??

— Desde que ouvi o Gottschalk não tive mais ânimo de me sentar ao piano. Só quem o não ouviu! Era macio, que coisa! Tinha não sei o que nas mãos...

E a velha senhora queria achar palavras, modismos que transmitissem a grande impressão que lhe fizera o pianista e suas músicas; e, com o esforço, o seu olhar de esmeralda tomou mais brilho, correndo por ele uns lampejos de mocidade breve apagados.