— Nunca ouviste peças dele? perguntou-me Gonzaga de Sá.
— Uma ou outra.
— Merecia ouvi-las. São bem diferentes da música dos mestres europeus — seca, cerebral, sem raízes na nossa sensibilidade americana. O Gotschalk era fantástico, dolente, impetuoso... Aqui ele provocou um delírio geral.
— Gostavas muito, não era, Manuel? Lembro que foste a todos os concertos com teu pai. Falavas muito na Morta, no Poeta...
— .... na Savana, na Bamboula, nos Olhos creoulos, concluiu Gonzaga de Sá. Que entusiasmo gerou! E estávamos em guerra com o Paraguai... Não foste, Escolástica, ao concerto monstro?
— Não; mas fui ao benefício da Stoltz. Nunca houve aqui um beneficio como o dela. Manuel era muito menino; tinha onze ou doze anos. Eu fui. Hoje, quando me recordo, me parece estar vendo a sala do Provisório repleta e linda de senhoras e moças. Depois da ária Oh! mio Fernando!, da Favorita, houve um estrépito d’almas, flores e flores, brindes. A duquesa de Abrantes, sobre uma almofada por ela própria bordada, manda-lhe uma coroa. A sala delirou — coroai-vos! coroai-vos! Flores, gritos,