Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/86

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mas, com o tempo, verifiquei que não havia em todas as suas manifestações nada de buscado, de procurado, — tudo nele era estrutural e as suas originalidades lhe tinham vindo naturalmente e foram-se fazendo com o lento trabalho sedimentar do tempo, do isolamento, da bondade e do íntimo sofrimento. Então, desconfiei que uma grande mágoa lhe turvara a mocidade, e que essa mágoa, por não a ter nunca confessado, por não lh’o consentir a sua reserva, ficou-lhe imprecisa, vaga e fugidia. Procurei decifrá-la e concebi hipóteses. Não vinha de amor; seria vulgar demais para Gonzaga de Sá. Entretanto, não afianço... No meu amável amigo, a crítica precedia qualquer ato; e assim o amor não faz males. Enfim... Teria tido sempre esse gênio? Ele mesmo me confessara que, a bem dizer, se esquecera de casar; e só lhe passara isso pela ideia nas duas vezes já aludidas. Seria de alguma delas que lhe vinha a mágoa? Não sei, contudo, uma ou outra vez, surpreendi-lhe certos gestos estranhos.

Ao entrar de manhã na seção dos Paramentos, vi de longe que Gonzaga de Sá, desenhava; e quando deu comigo, escondeu grosseiramente o papel. Não era um tal movimento da sua educação e eu pude ver, de relance, que se