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Página:Vidas seccas.pdf/12

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Graciliano Ramos

— Anda, condemnado do diabo, gritou-lhe o pae.

Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois socegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que elle se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.

A catinga extendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia circulos altos em redor de bichos moribundos.

— Anda, excommungado.

O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matal-o. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguem pela sua desgraça. A secca apparecia-lhe como um facto necessário — e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstaculo miudo não era culpado, mas difficultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.

Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem